Liga de ensino
A Liga do Ensino
Vários de nossos correspondentes se admiraram por ainda não termos falado da associação designada sob o título de Liga do Ensino. Por seu caráter progressivo, esse progresso parece-lhes merecer as simpatias do Espiritismo; entretanto, antes de nele participar, desejariam ter a nossa opinião. Agradecendo-lhes esse novo testemunho de confiança, repetiremos o que lhes temos dito muitas vezes, a saber: que jamais tivemos a pretensão de cercear a liberdade de ninguém, nem de impor nossas idéias a quem quer que seja, nem as considerando como devendo fazer lei. Guardando silêncio, quisemos não prejulgar a questão e deixar a cada um a mais inteira liberdade. Quanto ao motivo de nossa abstenção pessoal,não temos nenhuma razão de o calar e, já que desejam conhecê-lo, di-lo-emos francamente.

Nossa simpatia, como a de todos os espíritas, está naturalmente garantida a todas as idéias progressivas, a todas as instituições que tendem a propagá-las; mas ainda é necessário que tal simpatia tenha um objetivo determinado. Ora, até o presente a Liga do Ensino não nos oferece senão um título, sedutor é verdade, mas nenhum programa definido, nenhum plano traçado, nenhum objetivo preciso. Esse título tem, mesmo, o inconveniente de ser tão elástico que poderia prestar-se a combinações muito divergentes em suas tendências e em seus resultados. Cada um pode entendêlo como quiser e, sem dúvida, imaginar, por antecipação, um plano conforme à sua maneira de ver; poderia, então, acontecer que,quando estivesse em execução, a coisa não correspondesse à idéia que certas pessoas tinham feito. Daí as inevitáveis defecções.

Mas, dizem, nada se arrisca, já que são os próprios subscritores que regularão o emprego dos fundos. – Razão a mais para que não se entendam e, nesse conflito de opiniões e de vistas diversas, forçosamente haverá decepções.

Ao contrário, com um objetivo bem definido, um plano claramente traçado, sabe-se em que se compromete, ou, pelo menos, se se adere a uma coisa praticável ou a uma utopia; pode-se apreciar a sinceridade da intenção, o valor da idéia, a combinação mais ou menos feliz das engrenagens, as garantias de estabilidade, e calcular as chances de êxito ou de insucesso. Ora, no caso, esta apreciação não é possível, porque a idéia fundamental é cercada de mistérios e deve ser aceita sob palavra como boa. Queremos mesmo acreditá-la perfeita, nós a desejamos sinceramente, e quando o bem que dela deve sair nos for demonstrado e,sobretudo, quando lhe virmos o lado prático, nós o aplaudiremos de coração; mas, antes de dar a nossa adesão seja ao que for, queremos fazê-lo com conhecimento de causa; temos de ver muito claro em tudo o que fazemos e saber onde pomos o pé. No estado das coisas, não tendo os elementos necessários para louvar ou censurar, reservamos o nosso julgamento.

Esta maneira de ver é inteiramente pessoal e não deve induzir os que se julgam suficientemente esclarecidos.
R.E. , março de 1867, p. 117